18 de maio, 2024

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Pandemia deu gás ao mercado de luxo no Brasil. Até quando?

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Fátima Fernandes

No primeiro trimestre deste ano, pelo menos dois shoppings, o Cidade Jardim, em São Paulo, e o Catarina Fashion Outlet, em São Roque, apresentaram números de dar inveja ao setor.

O faturamento do Cidade Jardim subiu 64% e o do Catarina, 101%, na comparação com o mesmo período do ano passado.

De janeiro a março, juntos, os dois empreendimentos faturaram 50% mais do que no primeiro trimestre de 2019 e 58% mais do que no primeiro trimestre de 2020.

Os dois shoppings pertencem ao grupo JHSF, com foco em empreendimentos de alto padrão, incluindo ainda o Fasano, o Shops Jardins e a Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz (SP).

Thiago Alonso de Oliveira, CEO da JHSF, diz, em entrevista ao Diário do Comércio, que os bons resultados têm a ver com a postura que a companhia adotou durante a pandemia.

“Trabalhamos a quatro mãos para entender caso a caso as dificuldades dos lojistas, evitando o fim de um negócio. O objetivo sempre foi preservar a relação com lojistas e clientes”, afirma.

Com 150 lojas, o Catarina Fashion Outlet, de acordo com Oliveira, está numa região do Estado que tem apresentado boas taxas de crescimento.

É um empreendimento que atende tanto o público de maior renda de São Paulo, que busca grifes com preços menores, como o do interior.

O bom desempenho do shopping levou o grupo a dar início a um programa de expansão que deve mais do que dobrar a capacidade de lojas a partir do início do ano que vem.

A área bruta locável, de 30 mil metros quadrados, deve passar para 70 mil metros quadrados.

O perfil do shopping não deve mudar, diz Oliveira, mas deve adicionar mais entretenimento e gastronomia.

O grupo JHSF aposta no avanço da indústria de shopping, especialmente para atender o público de alta renda. O shopping Cidade Jardim também vai expandir.

A companhia ainda planeja construir mais três shoppings, um no complexo Boa Vista, um na Avenida Faria Lima com a Rua Leopoldo Couto de Magalhães Junior e outro no Real Parque.

“A gente olha muito para o shopping como sendo um local que consegue organizar a oferta de produtos e serviços e oferecer conveniência para os clientes.”

O Shops Jardins, inaugurado no meio da pandemia, no meio do Jardins, depois de uma obra demorada, revela a visão positiva do grupo sobre o negócio.

“Mesmo com a pandemia, decidimos não reprogramar o lançamento, e estamos bastante felizes com o resultado.”

Antes da inauguração, grifes que estão no shopping Iguatemi se interessaram em ir para o Shops, mas acabaram sendo impedidas por causa de cláusulas de raio nos contratos.

Em alguns dos contratos com lojistas, o Iguatemi estabelece que a marca não pode abrir outra loja nas proximidades. O Shops, localizado na Rua Haddock Lobo, estaria muito próximo.

“Ouvimos que os lojistas não ficaram felizes com isso. Nós entendemos que a competição é saudável e procuramos trabalhar e incentivar um ambiente mais competitivo.”

A inflação, diz ele, é um problema mundial, e um desafio. “Um executivo de qualquer empresa tem de saber tomar as decisões à luz dos fatos, pensando no longo prazo dos negócios.”

O plano da JHSF é continuar expandindo os seus negócios em regiões onde vivem ou circulam clientes de alta renda, independentemente do momento atual do país.

“O que a gente percebe é que existe uma crescente preferência de consumo dentro do Brasil. O que ajudou muito isso foi o aumento da oferta de produtos que não existiam no país.”

Neste momento, a JHSF discute com pelo menos uma dezena de marcas estrangeiras a possiblidade de vir para o Brasil pela primeira vez.

São marcas fortes em vestuário, calçados, joias e também em restaurantes. “As negociações com marcas internacionais são constantes na companhia.”

Com a pandemia, diz o CEO da JHSF, o grupo percebeu que os clientes, que compravam fora, começaram a comprar por aqui, o que virou uma oportunidade de negócio.

Algumas das marcas que a JHSF já trouxe para o Brasil são Brioni, Aquazzura, Chloé, Balmain, René Caovilla.

“A gente estuda o mercado, identifica as marcas, que passam por um processo de aprovação para apresentação do mercado brasileiro.”

Algumas delas, diz ele, decidem vir por conta própria, e outras preferem vir por meio de um representante local, como o próprio grupo JHSF.

Procuradas pelo Diário do Comércio, algumas grifes de luxo confirmaram que as vendas durante a pandemia chegaram a superar as registradas em 2019.

Grifes citaram alta de 25% no faturamento neste ano em relação a igual período de 2021, depois de registrarem crescimento de dois dígitos durante a pandemia.

A dúvida que fica é se este mercado tão aquecido no varejo de alto luxo vai se manter com o fim da pandemia e das restrições sanitárias na Europa e nos Estados Unidos.

Um empresário que conhece bem este mercado, e prefere não se identificar, diz que hoje está todo mundo feliz no mercado de luxo no Brasil.

Só que ele mesmo duvida que esse cenário tão favorável para o setor seja capaz de se manter por muito tempo.

As marcas internacionais, diz ele, voltaram a se encantar com o Brasil porque o mercado de luxo teve um bom desempenho nos últimos dois anos.

Só que o problema do setor é o mesmo de sempre, o alto imposto de importação. O preço de um relógio no Brasil, por exemplo, chega a ser o dobro do cobrado fora do país.

Para estimular as vendas por aqui, algumas marcas seguraram os preços dos produtos, situação que não deve se manter por muito mais tempo.

 

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