03 de maio, 2024

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A kura de Kauê Fuoco para os prédios abandonados do Centro de SP

O produtor cultural transforma lugares degradados em rolês exclusivos, reconstruindo assim as relações desses prédios com o entorno e atraindo visitantes pouco habituados com essa região da capital

Um bueiro, um túnel, uma estrada ou uma ponte abandonada. Foi buscando lugares assim que o produtor cultural Kauê Fuoco voltou o seu olhar para o Centro de São Paulo.

Longe das casas de festas renomadas, dos restaurantes e endereços já bem conhecidos, Kauê conseguiu tirar um público nichado e cativo de bairros glamourosos para jantar em prédios históricos abandonados no coração da capital.

Com o projeto chamado Kura, o produtor cultural explica ter criado o que define como uma “incubadora de experiências ressignificativas de reintegração”.

Simplificando o raciocínio, ao promover eventos exclusivos em lugares que nunca foram pensados para isso, ele lança curtas temporadas a partir de experiências com enredo próprio.

A atual “Grand Bazaar” sucede a Pizza&Jazz, quando Kauê foi convidado a ocupar o antigo prédio da Telesp, no Centro de São Paulo.

Abandonado há mais de uma década, o prédio foi adquirido pela incorporadora Metaforma que, incentivada pelo programa Requalifica Centro, pretende transformá-lo em um condomínio residencial de alto padrão, com quase 300 apartamentos e um complexo gastronômico.

Enquanto a obra não acontece, o produtor tenta, por meio de jantares, seduzir o público para a região e reconstruir essa relação e a ideia de que seu entorno tem muito a oferecer.

Ali por perto, os negócios instalados na vizinhança reforçam esse propósito – os ateliês do Edifício Califórnia, as lojas e estúdios da Galeria Metrópole e os espaços culturais que circundam o edifício Copan, como o Pivô e a Verve Galeria.

Para levar as pessoas novamente para dentro do ex-prédio da Telesp, Kauê primeiro transferiu para lá o seu ateliê. Cheio de peças antigas, materiais deixados no prédio e itens que virariam lixo, como um piano velho, monitores de tubo, mesas feitas com painéis de senhas e até centrais telefônicas, o produtor cultural organizou por lá uma espécie de exposição chamada “Irrealidades Invisíveis”, e também um salão de restaurante.

kauê transformou o antigo prédio da Telesp em um espaço para eventos. Convidados são recebidos em clima burlesco e apresentados à história do edifício.
É nessa atmosfera à meia luz e um tanto burlesca que acontecem as noites da Kura. A experiência começa pela rua Basílio da Gama, sem saída, onde um pequeno hall decorado com antigas máquinas da companhia telefônica recebe os visitantes.

Os convidados são recepcionados por um anfitrião, que conta a história do prédio e, em um clima bem teatral, são direcionados a subir dois lances de uma escada estreita. O rodízio de pizza está incluso no valor do ingresso (R$ 180), as bebidas são à parte e as mesas são compartilhadas. Quem quiser, pode vestir o avental e preparar suas próprias pizzas, ou simplesmente se sentar para curtir a apresentação de jazz. Os ingressos se esgotam rapidamente.

Em entrevista ao Diário do Comércio, Kauê conta sobre a sua relação com o Centro de São Paulo e como tem conseguido apresentar a região para quem antes a evitava.

DC – Você tem alguma história com o Centro de São Paulo? Alguma ligação com essa região?

Kauê Fuoco – Tenho uma relação afetiva com o Centro. Na época da faculdade, quando eu ainda não tinha definido o que eu queria fazer da vida, andava pelas ruas do Centro admirando os prédios e imaginando as histórias que aconteceram ali. E eu tinha algumas perguntas na minha cabeça: como eram as pessoas que habitaram alí no passado? Por que os prédios foram construídos na forma que são? E pensava muito na relação deles com a cidade.

O Centro, para mim, traz um sentimento de descoberta, vem deste anseio de querer conhecer grupos e pessoas. Hoje eu moro no Centro e tenho imóveis, empreendo na região, e tenho relacionamento com diversos empresários que também empreendem por aqui, além de fazer parte desse movimento de pessoas que acreditam e que querem melhorar este local tão importante para a cidade de São Paulo.

Qual é a história do Kura? Como surgiu a possibilidade de trazer essas experiências para os prédios do Centro?

Eu praticava parkour pelo Centro, e assim fui conhecendo mais de perto esses prédios e espaços públicos, muitos deles abandonados. Essa atividade fez com que eu despertasse, chamou minha atenção para o Centro, pois minha cabeça enchia de ideias, eu conseguia ter um olhar de fora para aquele lugar. Era uma coisa tão boa, que eu queria que outras pessoas sentissem isso também, que questionassem assim como eu.

A partir daí, eu comecei a fazer os eventos e convidava meus amigos. Nesses eventos, eu conseguia trazer pessoas relevantes do mercado, que gostam de experiências únicas, mas que nunca estiveram dentro de espaços tão diferentes, ou degradados como estes. Assim, fui criando esse elo entre os espaços e as pessoas. Até que os empresários tomaram conhecimento sobre meus eventos e me trouxeram para dentro do empreendimento deles.

 

O que você faz tem paralelo com os conceitos de retrofit, ressignificando o novo momento do Centro de São Paulo? 

Alguns conceitos são iguais aos do retrofit, como sustentabilidade, circularidade, ressignificação e preservação. Através de nossos eventos, conseguimos contar as histórias das coisas e dos lugares, através da reutilização de muitos materiais deixados nos prédios. De alguma forma, nossas ações são mais sustentáveis do que um evento normal, justamente pelos recursos que usamos. Vale comentar que nos eventos em si não fazemos alusão a esses conceitos/processos: queremos que seja muito mais algo que as pessoas sintam, percebam, vivenciem, do que estar explicitamente em nossa comunicação.

Sempre na entrada dos eventos temos um hostess na porta, que recepciona as pessoas, explica um pouco o que está acontecendo no ambiente, um pouco sobre o Kura, e nessa explicação ele acaba contando um pouco sobre como são nossos processos de criação, e sobre nossa relação com o empreendimento em questão. Desta forma, não fazemos uma alusão direta [ao retrofit], mas de certa forma trazemos essa informação.

O que acredita ser mais urgente em termos de ações públicas na região para reduzir esse distanciamento do público com o Centro?

Com certeza a questão da segurança é a resolução mais urgente. Hoje, o que mais distancia as pessoas do Centro é o fato delas não se sentirem seguras na região, principalmente por conta de ter muitos moradores de rua, e o alto índice de roubos de celulares.

Outra solução interessante seria em relação às leis que fazem uma série de proibições em relação ao uso de prédios antigos ou de restauro. Isso desencoraja as pessoas a empreenderem no Centro. Essa dificuldade de autorizações ou de incentivo afasta os empreendedores, então ter certas facilidades em relação a essas licenças seria muito melhor.

Em breve, esse edifício (Telesp) dará lugar a Galeria Ramal. Quais são os seus planos? Seguirá com as experiências pelo Centro?

O Kura é um projeto itinerante que pensa a relação que as pessoas têm com os espaços, entretenimento e com os materiais. Então, ele possibilita com que possamos fazer vários tipos de negócios, independentemente do prédio ou do timing de construção ou retrofit. Nós vamos seguir com as experiências no Centro, que pode até acontecer em uma rua pública. Mas o nosso plano é manter também um espaço físico na própria Galeria Ramal.

Diário do Comércio (dcomercio.com.br)

 

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