O mundo digital, as mudanças nos hábitos de consumo e os avanços tecnológicos arrebataram o varejo de alimentos. Se há alguns anos bastava ter na loja física um letreiro caprichado, uma boa variedade de produtos nas prateleiras e simpatia no atendimento, hoje é imprescindível estar presente na internet e ter as portas do negócio abertas, literalmente, para o mundo digital.
Investir em uma plataforma digital, em mídias sociais e até em um canal de e-commerce ajuda a aumentar as vendas, traz visibilidade e atualidade ao negócio e propicia uma experiência de conforto e comodidade, pois não é mais preciso se deslocar para conhecer a loja. Para especialistas, trata-se de um caminho sem volta.
“Desde o advento do smartphone e a popularização de planos de internet móvel, a web deixou de ser um local exótico para se tornar um local comum, onde seus clientes estão. Amigos já se habituaram a combinar o churrasco de domingo, seja pelo WhatsApp ou Facebook, e na sequência procuram lugares para comprar cerveja e picanha”, exemplifica Daniella Fargnoli, Líder de Marketing Digital da agência Cloud Dog.
Isso é reflexo de como as novas gerações cresceram digitais, consumindo muito mais conteúdo na web do que seus pais assistiam à televisão. “É uma mídia fácil e rápida. Antigamente, os supermercados investiam grande parte do orçamento com ofertas impressas e isso dava muito trabalho de preparação e distribuição, além do custo alto. E o consumidor só tomava ciência das promoções se fosse até a loja. Hoje, a conexão com a oferta é mais veloz, ele quer saber tudo, de forma ágil e simples”, analisa.
“Atualmente, a acessibilidade está na mão, a um clique. Basta fazer uma pesquisa rápida sobre um item, serviço ou local, para as pessoas encontrarem o que procuram. A presença digital vai ampliar os resultados do seu negócio, levando a sua marca e o seu produto a quem se interessar”, afirma Eduardo Jaime Martins, CCO (Chief Communications Officer) do MegaMidia Group. “Seus concorrentes já estão na internet, então os seus possíveis fregueses estão pesquisando pelo seu produto na web e sendo direcionados a comprar na concorrência, que já possui uma estratégia digital adequada.”
Para Felipe Gomes, sócio-diretor da CoreBiz, como os usuários estão mais conectados e dinâmicos, não querem perder tempo para realizar certas tarefas e, por isso, temos de pensar em oferecer a eles a melhor experiência de compra possível. “Ficar de fora do universo digital é abrir mão de atender aos anseios atuais do público e isso traz grandes riscos de performance para o business. Quanto mais off-line, ou seja, física é a empresa, menor é sua área de atuação e atendimento”, diz. “A consequência disso é simples: ou o crescimento será muito menor do que poderia ser ou, pior, nem ao menos acontecerá.”
Gomes reforça que o site de um supermercado é um grande aliado no relacionamento com o consumidor. “No ambiente digital da empresa, o usuário precisa ter qualquer tipo de problema ou necessidade atendida, seja para consultar o portfólio de produtos e preços, seja para realizar a compra a distância e escolher dia e hora da entrega ou para encontrar uma loja”, avalia.
“É importante que o pequeno entenda que não existe receita de bolo e dificilmente uma empresa consegue fazer tudo, seja por investimento alto ou barreiras tecnológicas. O básico é informar sobre produtos e preços e, se possível, ter uma ferramenta de e-commerce”, enfatiza o executivo da CoreBiz.
Primeiros passos − Para o comerciante que não tem como investir muito, Daniella Fargnoli, da Cloud Dog, orienta a começar por um modelo básico. “A página deve ter informações de localização e contato, fotos da loja e dos produtos que comercializa. É aconselhável ter um layout leve, ser rápida e totalmente adaptada para uso em celulares, além de ‘clean’. Quem a visita precisa ter a sensação de que está dentro do próprio supermercado, com conteúdo fácil de achar, ofertas e interatividade.”
“Até o pequeno varejista pode fazer anúncios pagos em mídias sociais e atingir uma boa interatividade. Abrir uma conta no Google Meu Negócio, cadastrar os dados das unidades, com endereços, horários de funcionamento e avaliações dos clientes respondidas é um bom início e é gratuito”, garante Eduardo Martins, do MegaMidia Group.
Buscar o auxílio de um profissional ou agência especializados também é importante para garantir retorno ao investimento, se a decisão for ter um sistema mais sofisticado. “Ter apenas um site isolado não é indicado, pois o ideal é que sejam construídos os canais digitais do negócio e eles precisam convergir. Qualquer levantamento de custos dependerá da complexidade do projeto, mas um institucional pode custar de R$ 10 mil a R$ 35 mil”, diz o executivo.
A página na internet pode ter diversos tamanhos e funcionalidades e servir a uma só unidade ou a uma rede, por isso os valores variam bastante. “Uma básica pode custar R$ 8 mil e trazer informações de localização, contato, fotos da loja. Já para uma rede de supermercados há outros recursos disponíveis, como localizador de lojas e motor de ofertas”, explica Daniella, da Cloud Dog.
“Ser responsivo, ou seja, acessível por qualquer tipo de aparelho móvel, é um trunfo, pois o uso de celulares só aumenta, em todas as faixas etárias, classes sociais e localizações”, comenta Valdiney Viçossi, presidente da Agência VM2. Para quem já tem um site, mas pretende dar um salto adiante, ele calcula o investimento médio inicial em um e-commerce básico, com várias opções de vendas e modalidades, em torno de R$ 19 mil.
O executivo destaca que a comodidade da tecnologia é um atrativo, mas exige sempre mais criatividade do empresário para criar soluções simples, não necessariamente caras. “Um exemplo é a opção ‘retira’, em que o cliente faz a compra pela web e marca o horário para ele mesmo ir buscar os itens na loja. Basta lembrarmos que em muitos lares não há ninguém para receber a encomenda durante o dia, pois todos trabalham.”
Os empresários do varejo que não desejam começar do zero podem optar ainda por plataformas prontas de e-commerce. “Há opções customizadas para praticamente todos os segmentos, com custo infinitamente menor que criar seu próprio sistema, mas cada projeto é um desafio diferente, dependerá da complexidade tecnológica empregada”, analisa Gomes, da CoreBiz.
“Ao se planejar para comercializar pela internet, o varejista deve considerar outros pontos que vão além da tecnologia, como a logística e o pós-venda, principalmente no que se refere a perecíveis, que precisam ser resolvidos antes de dar o primeiro passo”, avisa Daniella, da Cloud Dog.
Como estímulo aos varejistas do setor de alimentos que ainda não abriram as portas do seu negócio na web, Eduardo Martins, do MegaMidia Group, cita o crescente uso do celular no Brasil, que já ultrapassou o de computadores, para acessar a internet. “Mais de 80% do público utiliza o smartphone também para compras. As pessoas estão superando a insegurança de realizar transações online, percebendo as vantagens da tecnologia.”
O que não fazer – Ter um site dá trabalho, não basta apenas coloca-lo no ar e deixa-lo lá para sempre. Por isso, os especialistas alertaram também sobre o que não fazer no que se refere à presença na web. “Um ambiente ou canal de vendas digital é como qualquer outro. Precisa de atenção 24/7, investimento e pessoas especializadas. Atualização constante, otimização de experiência, aquisição de tráfego (pago e orgânico) para o site (e para as lojas físicas), relacionamento e vendas via CRM (SMS, e-mail marketing, etc) são apenas algumas frentes triviais que uma empresa deve fazer para conseguir resultados cada dia mais concretos”, completa Gomes, da CoreBiz.
“Não manter o site atualizado com as mudanças que acontecem no seu negócio, horários de funcionamento, abertura em feriados ou inaugurações, assim como deixar de aprimorá-lo e de cuidar da usabilidade, gera uma péssima experiência para o usuário”, avisa Martins, do MegaMidia Group.
“Se a loja física é atualizada com grande frequência, na web isso também deve acontecer”, reforça Daniella, da Cloud Dog. “Busque sempre adicionar novos conteúdos à sua página, informar sobre ofertas e publicar fatos que possam aumentar a fidelização dos clientes, como melhorias na loja, reformas no estacionamento e mudanças de sortimento”, conclui a executiva.
NOV/19
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