15 de outubro, 2024

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É tempo de agir para transformar

Paulo Hartung, O Estado de S.Paulo

Toda crise gera desafios, sofrimento, mas também oportunidades. Pandemia, convulsão climática, guerra na Ucrânia, extremismos políticos, populismo crescente, obscurantismo, desarranjo das cadeias globais de suprimento e ampliação das desigualdades sociais no mundo. Esses e tantos outros eventos desconcertantes e com grave repercussão na vida cotidiana do hoje e do amanhã podem e devem desencadear um movimento para a reinvenção virtuosa da existência.

Desde os princípios do milênio, quando o então secretário-geral da ONU Kofi Annan lançou o Pacto Global, segundo o qual organizações alinhariam suas estratégias a dez princípios universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção, temos à nossa disposição um norte efetivo de ação com vistas à transformação.

Com o passar do tempo, esses princípios moldaram o conceito ESG (ambiental, social e governança, em português). Aqui, há uma simbiose de mudanças que se somam para produzir efeitos transformadores não somente nas corporações, mas, especialmente, na cena socioeconômica e político-cultural na qual elas se inserem.

Trata-se de interagir, responsavelmente, com o meio ambiente, de efetivar laços socioeconômicos com base na diversidade e na equidade e de executar sua missão organizacional com a ética de quem se sabe parte importante e referencial da sociedade. E, como ainda estamos muito distantes de realidade aceitável, que tal aproveitar esta fase de mudanças impositivas para progredirmos numa parte essencial que nos toca a todas e todos?

O Brasil é um país diverso, multiétnico. Somos uma nação com 51% de mulheres, mais de 50% de pretos e pardos, mais de 800 mil indígenas, uma parcela de ao menos 10% de LGBTQIAP+ e 7% de pessoas com deficiência. Está mais do que na hora de essa diversidade brasileira também se refletir dentro das organizações.

Os ganhos são múltiplos. Segundo pesquisas da McKinsey, empresas modernas e lucrativas estão avançando significativamente nessa pauta, deixando as concorrentes para trás, já que para a consultoria há relação direta entre o nível de inclusão e diversidade e o retorno financeiro.

Uma empresa que não tenha uma política em prol da diversidade corre o risco de não atrair ou reter talentos.

A consultoria CKZ Diversidade explica que a multiplicidade de talentos e de ideias é fundamental para um processo decisório mais assertivo, uma vez que diferentes experiências contribuem para uma análise mais abrangente. Ou seja, grupos mais diversos ampliam a capacidade de compreender, se adaptar e responder às crescentes exigências do mercado e da sociedade.

Em 2021, a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) criou seu Comitê Diretor ESG. Foi, então, lançada uma ação setorial de capacitação em diversidade e inclusão (D&I). Neste ano, já foram realizados seis encontros, com a participação ao todo de cerca de mil profissionais do setor, com o envolvimento direto, ativo e fomentador das lideranças das empresas. Os temas dos sucessivos encontros foram gestão e planejamento, raça e etnia, gênero, pessoas com deficiência (PCD), LGBTQIAP+ e etarismo, com suporte de consultores e especialistas e trocas sobre casos práticos nas empresas.

Segundo dados do relatório anual da Ibá (2021), 73% das empresas que responderam ao questionário atuam em iniciativas e têm metas em D&I, sendo a maioria relacionada a gênero. O Panorama da Rede Mulher Florestal indica que a presença feminina nas empresas vem evoluindo ano a ano, passando de 13%, em 2020, para 19%, em 2021.

Evidentemente, ainda há um grande percurso para atingir outro patamar nessa e em todas as áreas alcançadas pelo ESG. Por isso, esta jornada sempre se inicia com o olhar interno, para os valores e a cultura organizacional das empresas. Passa pela sensibilização, o engajamento e apoio da liderança, para, a partir daí, avançar em boas práticas e compromissos com os colaboradores e com a sociedade.

Sempre dialogando com o espírito do tempo, é importante ressaltar que quaisquer avanços civilizatórios estão na dependência direta da contingência democrática. Nesse sentido é que, a despeito da diversidade de horizontes que se acolha, precisamos defender a democracia como um valor inegociável da existência cidadã.

A democracia não é regime pronto e acabado, devendo ser contemporânea de cada era de sua experiência, o que requer, entre outros, atualizações ao seu exercício. Tampouco é perfeita, mas é o melhor já produzido para organizar o exercício do poder em sociedades livres, igualitárias e fraternas.

Para nos superarmos no suceder dos dias, como bem inspiram os ditames do ESG, é preciso, pois, combater o obscurantismo. Humanismo e totalitarismo não rimam na escritura da civilização. Assim, que possamos ir além das divergências para fortalecermos a convergência contra retrocessos, para nos tornarmos melhores do que temos sido até aqui.

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ECONOMISTA, PRESIDENTE-EXECUTIVO DA IBÁ, MEMBRO DO CONSELHO CONSULTIVO DO RENOVABR, FOI GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (2003-2010/2015-2018)

 

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