Maior consumo será essencial para a retomada econômica prosseguir e ganhar impulso, mas a maior parte das famílias está endividada e com dificuldade para pagar as contas. Candidatos à Presidência deveriam estar muito atentos a esse problema. Promessas de crescimento em 2023 serão frustradas, se os consumidores continuarem sufocados, especialmente num quadro de juros muito altos e crédito escasso. Em agosto, 79 em 100 famílias tinham dívidas a vencer. Além disso, 29,6% estavam com débitos em atraso e 10,8% se declaravam sem condições de pagar. Esses números, levantados em pesquisa mensal, foram divulgados em setembro pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Os endividados eram 72,9% em agosto de 2021 e 25,6% tinham contas em atraso. As condições do mercado de trabalho, com informalidade muito alta, subutilização da mão de obra, desemprego elevado e em redução muito lenta são uma parte importante da explicação. A inflação e os juros muito altos também ajudam a entender as dificuldades.
O desarranjo dos preços continua comprometendo o poder de compra dos consumidores, mesmo com a transferência de renda para os mais pobres e alguma melhora do mercado de trabalho, segundo a análise publicada pela CNC. A inadimplência pouco variou entre abril e junho, quando as famílias foram beneficiadas com recursos extras do FGTS e antecipação do 13.º pagamento do INSS. Mas os números voltaram a crescer a partir de julho.
A evolução das vendas e a avaliação do quadro pelos empresários combinam com os problemas vividos pelas famílias. Em julho, as vendas no varejo total foram 0,7% menores que em junho e 6,8% inferiores às de um ano antes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O volume vendido em 12 meses foi 1,9% menor que o do período imediatamente anterior. Em julho, 9 das 10 atividades do varejo ampliado tiveram variação negativa em relação ao mês anterior. Em 12 meses, a redução das vendas acumuladas ocorreu em 5 dos grandes conjuntos.
Com a redução do desemprego, a transferência de recursos às famílias e o aumento da mobilidade dos consumidores, o Índice de Confiança dos Empresários do Comércio chegou a subir 5,2% em um ano, até setembro, de acordo com a CNC. Nos últimos dois meses, no entanto, a percepção mudou e em setembro o índice recuou 2,6%. A avaliação das condições atuais piorou 7,1% e o nível das expectativas baixou 0,2%. Essa mudança afetou os planos de contratação de pessoal (-3,5%) e de investimentos na empresa (-4,1%). O último levantamento mostrou o indicador de confiança do comerciante 2,7 pontos abaixo do nível anterior à pandemia.
Como o desempenho da indústria também tem sido fraco, os desafios econômicos para o atual e para o próximo governo permanecem muito graves. Em julho a produção industrial superou por 0,6% a do mês anterior, mas ficou 0,8% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, último mês anterior à primeira onda de covid-19. A recuperação da pandemia é uma tarefa incompleta.
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