Os custos dos alimentos e de produtos farmacêuticos pressionaram os bolsos dos consumidores e a inflação no Brasil ficou um pouco acima do esperado em abril, embora a taxa em 12 meses tenha mostrado alívio.
Nos 12 meses até abril, o IPCA seguiu abaixo da marca de 4% ao subir 3,69%, de 3,93% em março.
Os resultados ficaram ligeiramente acima das expectativas em pesquisa da Reuters de avanço de 0,35% no mês e de 3,66% em 12 meses.
O centro da meta para a inflação, medida pelo IPCA, este ano é de 3,0%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
De acordo com o gerente da pesquisa, André Almeida, o grupo Saúde e cuidados pessoais foi afetado pela alta de 2,84% nos preços dos produtos farmacêuticos devido ao reajuste de até 4,5% autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos a partir de 31 de março.
“Fenômenos climáticos ocorridos no fim de 2023 e no começo de 2024 afetaram a produção”, explicou Almeida.
Por sua vez, depois de uma queda de 0,33% em março, os custos de Transportes passaram a subir 0,14% no mês passado. Por um lado, as passagens aéreas recuaram 12,09%, mas por outro os combustíveis aumentaram 1,74%. Etanol (4,56%), gasolina (1,50%) e óleo diesel (0,32%) registraram altas.
Serviços e RS
A inflação de serviços, acompanhada de perto pelo Banco Central, desacelerou a alta a 0,05% em abril, de 0,10% no mês anterior, acumulando em 12 meses avanço de 4,60%.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, teve em abril alta a 57%, de 56% em março.
“Apesar de um IPCA acima do esperado, observamos um qualitativo positivo. Houve uma desaceleração, tanto na variação mensal quanto anual, da inflação de serviços e serviços subjacentes. A média dos núcleos passou de 3,8% em março para 3,5% em abril”, disse Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, em referência a medidas de inflação que desconsideram preços mais voláteis.
Para o cálculo do IPCA do mês, os preços foram coletados no período de 29 de março a 30 de abril de 2024 e ainda não devem refletir os problemas provocados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul desde o final de abril. Analistas esperam impactos das inundações em produtos como arroz, carnes e laticínios.
“O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz, tem produção de soja, milho, produtos importantes para a ração animal. Mas como (as chuvas vão) impactar nos preços desses produtos ao consumidor, é preciso aguardar para ver”, disse Almeida.
O Banco Central vem destacando uma maior preocupação com possível pressão de salários sobre os preços diante do mercado de trabalho aquecido, além de uma maior incerteza sobre a dinâmica de queda da inflação doméstica, notando que a inflação de serviços subjacente segue em nível elevado.
O BC decidiu reduzir nesta semana o ritmo de afrouxamento monetário ao fazer um corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, para 10,50% ao ano, abandonando sua indicação sobre o futuro dos juros básicos.
Também voltou a destacar as expectativas de inflação desancoradas e medidas de inflação subjacente (que excluem dados mais voláteis) acima da meta, piorando suas próprias projeções para o comportamento dos preços em relação à reunião anterior.
“A recente divulgação do IPCA, que apresentou uma desaceleração nos preços de serviços e um índice subjacente em queda, sugere uma inflação em trajetória de aproximação à meta estabelecida. A expectativa é que o Copom continue a navegar entre a pressão por taxas de juros menores e a necessidade de manter a inflação sob controle, especialmente se novos dados do IBGE adicionarem complexidade ao debate”, avaliou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.
Analistas aguardam agora a divulgação da ata dessa reunião, na próxima terça-feira, para obter mais detalhes sobre a decisão e o cenário para a política monetária.
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