05 de outubro, 2024

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Mundo em crise precisa de comércio e de ajuda

Imagem: onlyyouqj - br.freepik.com

Ngozi Okonjo-Iweala, Rebeca Grynspan e Pamela Coke-Hamilton, O Estado de S.Paulo

Estamos no período mais difícil que a economia mundial enfrentou desde a criação do sistema multilateral, há mais de 75 anos. Um choque múltiplo – pandemia de covid-19, mudança climática, conflito e custo de vida – desfez anos de ganhos de desenvolvimento difíceis de serem alcançados.

Uma ação coordenada e multilateral é necessária para superar as crises que enfrentamos. Tanto a ajuda financeira quanto o comércio têm papéis-chave a desempenhar para reverter os impactos deste choque e colocar o mundo novamente no caminho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Nós compartilhamos um profundo compromisso com a prosperidade gerada pelo comércio. Nós três entendemos que um mundo em crise significa mudar as práticas de sempre. E nós três queremos que nossas organizações ajam, em vez de falar, sobre como fazer com que a ajuda e o comércio deem resultados para todas as pessoas.

Para orientar a ajuda e o comércio em direção a um mundo melhor, os formuladores de políticas precisam dar três guinadas fundamentais.

Primeiro, tornar o comércio mais verde. O comércio global pode ter um papel importante na transição para uma economia de baixo carbono.

Em segundo lugar, tornar o comércio mais inclusivo. Promover maior comércio por pequenas empresas e maior participação de mulheres e jovens torna as empresas e os países mais competitivos, impulsiona a transformação econômica e reduz a pobreza. No entanto, pesquisas empresariais do Centro de Comércio Internacional (ITC, na sigla em inglês) mostram que apenas uma em cada cinco empresas exportadoras é liderada por mulheres. E dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que as micro, pequenas e médias empresas representam cerca de 95% de todas as empresas, mas apenas 1/3 do total das exportações.

Em terceiro lugar, tornar o comércio mais conectado. Em nosso mundo em rede, o futuro do comércio está nos canais e nas plataformas digitais, especialmente para as pequenas empresas. Durante a pandemia, vimos como vender online passou de útil a crucial para a sobrevivência. Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) mostram que os serviços prestados digitalmente atingiram quase 2/3 do nível das exportações globais de serviços.

Estes temas estavam na mesa na Revisão Global da Ajuda ao Comércio, que ocorreu nesta semana em Genebra.

O evento ocorreu um mês após o sucesso da 12.ª Conferência Ministerial da OMC, que colocou o multilateralismo comercial de volta num caminho produtivo e concluiu um pacote de acordos históricos.

Os dados mostram sinais promissores de que a ajuda ao comércio está se inclinando para uma maior sustentabilidade, maior inclusão e maior conectividade. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da OMC revelam um recorde de quase US$ 50 bilhões em ajuda para o comércio em 2020, dos quais metade foi relacionada ao clima ou ao gênero e 1/3 apoiou a economia digital. Apesar de crescentes pressões orçamentárias, é extremamente importante continuar e aumentar esses fluxos de ajuda para o comércio.

Além de um foco temático na sustentabilidade, na inclusão e na conectividade, melhorar a contribuição da ajuda ao comércio para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável requer atenção em onde e como aplicar os recursos.

É necessário focar nos países cujas necessidades são maiores – particularmente os países menos desenvolvidos e os países frágeis/afetados por conflitos – e em iniciativas regionais como a Área de Livre-Comércio Africana Continental, para garantir que elas se tornem marcos para cadeias de valor regionais mais amplas e mais inclusivas para o crescimento por meio do comércio.

Isso também requer parceria entre organizações internacionais. A OMC, a Unctad e o ITC já colaboram em iniciativas como o Global Trade Helpdesk, que simplifica a pesquisa de mercado trazendo informações sobre comércio e negócios num único portal, bem como no apoio aos países exportadores de algodão na África.

Por último, significa mobilizar as finanças públicas e privadas. A Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês) estima uma lacuna financeira mundial de US$ 300 bilhões para as mulheres – e o déficit de financiamento para o comércio internacional quase dobrou, passando de aproximadamente US$ 1,5 trilhão. Sem acesso ao financiamento, as empresas não podem crescer, diversificar-se ou formalizar-se.

Criar um futuro mais sustentável, inclusivo e conectado é o grande desafio dos nossos tempos. Ajuda, comércio e multilateralismo, trabalhando juntos, são parte da solução. É normal e compreensível que os governos ajam para sustentar suas próprias economias em tempos conturbados. Mas devemos agir agora para garantir que os mais pobres e mais vulneráveis do mundo ainda possam ver um caminho para a prosperidade por meio do comércio global.

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RESPECTIVAMENTE, DIRETORA-GERAL DA OMC, SECRETÁRIA-GERAL DA CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO E DIRETORA EXECUTIVA DO CENTRO INTERNACIONAL DE COMÉRCIO

 

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