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Esperança em alta é o indicador mais positivo da indústria, neste momento, depois da queda recorde em abril e de alguns sinais de recuperação em maio. Com menos operários nas fábricas e muitas máquinas ainda paradas, o setor trabalha com apenas dois terços – 66,2% – da capacidade instalada, segundo sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Essa ainda é uma prévia do Índice de Confiança da Indústria, mas os dados parecem confirmar uma retomada de fôlego. Com melhora em seus dois componentes, a avaliação do presente e a expectativa para os próximos três e seis meses, o índice geral subiu 15,7 pontos e chegou a 76,6. O salto de maio para junho foi um recorde. O humor, no entanto, continua longe de 100, a fronteira entre os territórios negativo e positivo.
Mas qualquer respiro depois do desastre recente é muito bem-vindo. A atividade econômica despencou 9,3% em abril, segundo o Monitor do PIB – FGV, e atingiu um nível 13,5% inferior ao de um ano atrás. No trimestre móvel encerrado em abril o Produto Interno Bruto (PIB) foi 6,1% menor que o dos três meses até março. Em relação ao trimestre correspondente de 2019 a perda foi de 4,9%. Apesar de alguns sinais positivos e do início de reabertura, depois da quarentena, as expectativas quanto ao resultado final do ano são sombrias.
Segundo Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV, a economia deve encolher 6,4% neste ano. Esse número, mencionado na sexta-feira passada, é muito parecido com estimativas correntes no mercado. Pela mediana das projeções colhidas pelo Banco Central (BC) em sua última pesquisa Focus, o PIB deve diminuir 6,5% em 2020 e crescer 3,5% em 2021. A maior parte das expectativas parece haver-se estabilizado nessa vizinhança. No caso da produção industrial, a mediana aponta um recuo de 5,5% neste ano seguido de um avanço de 3,5% no próximo. Em 2019 a indústria produziu 1% menos que em 2018.
Percebida no Brasil no fim de fevereiro, a pandemia de covid-19 só afetou a economia a partir da segunda quinzena de março, quando o distanciamento social já estava em vigor na maior parte dos Estados. Mas o grande impacto econômico da crise sanitária ocorreria no mês seguinte. A retração de 9,3% apontada pelo Monitor do PIB foi um recorde e refletiu problemas disseminados por todos os setores.
O choque foi particularmente severo na indústria. A produção industrial foi 15,7% menor que a de março, puxada principalmente pela indústria de transformação (-24,3%) e pela da construção (-11,7%). O desempenho do setor de serviços também foi muito ruim (-7,3%), com os piores indicadores anotados no comércio (-18,3%) e nos transportes (-15,1%).
O tombo na produção de bens e serviços reflete o desastre no outro lado da equação, o da demanda. Deste lado as quedas também foram recordes. De março para abril o consumo caiu 7,7% e o investimento produtivo, medido como formação bruta de capital fixo, desabou 23%. Todos os componentes do investimento desabaram – máquinas, equipamentos, obras e itens de menor peso no conjunto. Com isso, a taxa mensal de investimento chegou a 12,1% do PIB, a menor da série iniciada em 2000.
A redução do investimento é normal numa crise severa. Não tem sentido ampliar a capacidade produtiva quando as indicações são de ampla ociosidade por muito tempo. As empresas têm capacidade de sobra para a retomada dos negócios. Mas precisarão investir em potencial produtivo e inovação para garantir crescimento seguro e duradouro numa próxima fase de expansão.
Além disso, o governo terá de cuidar, mobilizando capital privado, de investimentos em infraestrutura. É preciso construir e conservar estradas, portos, aeroportos, complexos de produção e transmissão de energia e sistemas de saneamento básico. Tudo isso é essencial para ganhos de produtividade e para a melhora das condições sanitárias – e econômicas, portanto – de dezenas de milhões de pessoas. Todas essas tarefas dependerão de um insumo precioso nem sempre disponível: competência na definição e na execução de políticas.
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