07 de outubro, 2024

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O Brasil no quadro sombrio do FMI

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Guerra na Ucrânia, inflação elevada e alta de juros tornam desafiante o cenário mundial, com perspectivas especialmente sombrias para a América Latina, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). O crescimento geral deve passar de 3,2% neste ano para 2,7% no próximo. No caso dos latino-americanos, a taxa deve recuar de 3,5% para 1,7%. Com expansão estimada de 2,8% e 1% nesses dois períodos, o Brasil deve continuar perdendo espaço na economia global, com crescimento bem inferior às taxas de outros emergentes. O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, falam como se o País estivesse surfando uma onda de prosperidade e dando um exemplo de vigor à maior parte do mundo. Cálculos do mercado e de instituições multilaterais apontam, no entanto, um desempenho brasileiro muito menos satisfatório. Os números do FMI são do relatório sobre Perspectivas da Economia Mundial, preparado para a assembleia anual da entidade.

Pelas contas do mercado, o Brasil deve apresentar neste ano um Produto Interno Bruto (PIB) 2,7% maior que o de 2021. Em 2023 o crescimento deverá ficar em apenas 0,54%, segundo a última pesquisa Focus. A mesma pesquisa inclui taxas de 1,7% em 2024 e de 2% em 2025. Pelos cálculos do FMI, o Produto Mundial crescerá 3,2% em 2027; o dos emergentes, 4,3%, em média; e o do Brasil, 2%.

Nos cenários de médio e de longo prazos, projeções do mercado e de entidades internacionais normalmente indicam, para a economia brasileira, expansão anual de 2%, ou próxima dessa taxa. A explicação vem sendo repetida há muitos anos: pouco se faz, no País, para ampliar seu potencial produtivo.

A receita básica é bem conhecida. É preciso investir muito mais em máquinas, equipamentos, infraestrutura, educação, saúde, ciência e tecnologia. É necessário, também, aumentar a integração internacional, melhorar o sistema tributário e criar um ambiente geral mais propício aos negócios. Poucos segmentos industriais se tornaram mais eficientes, modernos e competitivos nas últimas três décadas. Grandes avanços foram observados apenas no agronegócio, em algumas atividades de outros setores, como o financeiro, na exploração mineral e num conjunto restrito de manufaturas. O segmento manufatureiro já foi mais competitivo no mercado mundial.

O debate eleitoral teria sido muito mais produtivo, desde o primeiro turno, se os candidatos houvessem apresentado ideias mais elaboradas sobre a reindustrialização do País. Quem assumir a Presidência, no começo de janeiro, só levará o Brasil de volta ao desenvolvimento se der atenção às condições da indústria. Cometerá um erro desastroso, no entanto, se confundir política industrial com protecionismo ou com escolha de vencedores.

Mas o enfraquecimento da indústria, acentuado nos últimos dez anos, é apenas um dos sinais mais visíveis da estagnação brasileira. Entre 2004 e 2013, o crescimento brasileiro foi de 4% ao ano, em média, num empate com o desempenho mundial (4,1%), segundo o FMI. Em todos os anos entre 2014 e 2021 a evolução do Produto Mundial foi melhor que a do Brasil e isso deve repetir-se neste ano e no próximo, de acordo com as estimativas do Fundo.

Quem assumir a Presidência encontrará, de imediato, dois desafios econômicos. Terá de montar uma política para o desenvolvimento, assunto esquecido nos últimos anos, e de guiar o País num ambiente global descrito pelo FMI como tempestuoso. O mundo já enfrenta inflação, juros altos e efeitos da desaceleração, mas o “pior está por vir”, segundo o relatório, “e para muitas pessoas 2023 doerá como uma recessão”.

O mais prudente, recomenda o texto, será enfrentar os problemas sem recuo, com austeridade fiscal e com o aperto monetário já iniciado. Como em outras ocasiões, o receituário inclui políticas bem focadas de amparo aos mais vulneráveis. Afrouxar a política, adverte o Fundo, poderá tornar mais custoso, adiante, o combate à inflação. O recado vale para o Brasil, certamente, apesar de alguma acomodação recente dos preços ao consumidor.

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