07 de outubro, 2024

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Reação lenta de um país fora do ritmo

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

A lenta recuperação econômica prosseguiu em julho, com avanço de 0,6% sobre junho e de 2,5% em 12 meses, puxada pelos serviços, segundo o Monitor do PIB-FGV, a mais detalhada prévia das contas nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses números podem sustentar a esperança de um crescimento próximo de 3% em 2022, insuficiente para tornar menos pífio o balanço do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Pouco antes de publicada a nova edição do Monitor, o Banco Central divulgou as últimas projeções do mercado, resumidas na pesquisa Focus. Pela mediana das estimativas, o PIB aumentará 2,65% neste ano, 0,50% em 2023 e 1,70% em 2024.

A economia brasileira cresceu em média 0,59% entre 2019 e 2021, enquanto a produção mundial aumentou em média 1,54%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). No ranking de crescimento de 50 nações, o Brasil ficou em 32.º lugar. Se o crescimento brasileiro atingir 2,9% neste ano, hipótese mais favorável que a do mercado, a expansão global ainda poderá ser superior, alcançando 3,2%, segundo cenário construído pelo economista Sérgio Gobetti para o Estadão.

Enquanto esses números eram conhecidos pelos leitores, no domingo, o presidente Jair Bolsonaro aproveitava sua viagem a Londres, oficialmente motivada pelo funeral da rainha Elizabeth II, para um comício eleitoral e para novas palavras de suspeita sobre a eleição de outubro. Só haverá sinais de lisura, segundo o presidente, se ele for vitorioso no primeiro turno. Até agora, a vitória de seu principal oponente foi apontada como o resultado mais provável pela maior parte das pesquisas.

Por enquanto, o presidente Bolsonaro só se distingue, interna e externamente, por seus ataques ao Judiciário, pelo desapreço às instituições, pela tolerância à devastação ambiental, pelas manifestações de desprezo à ciência, à cultura e à saúde pública, pelos desacertos diplomáticos e pela desastrosa gestão econômica, a pior desde a recessão deixada pela petista Dilma Rousseff.

De fato, mal se pode falar da existência de uma política econômica em quase quatro anos de mandato. As ações contracíclicas na fase inicial da pandemia foram semelhantes, em vários aspectos, àquelas observadas em cerca de uma centena de outros países. Nunca houve, no entanto, definição de metas de crescimento de médio e de longo prazos, nem projetos e programas de modernização produtiva, nem fixação de prioridades sociais.

Ao assumir o posto, em 2019, o presidente já encontrou uma agropecuária vigorosa e em continuada expansão. Nenhuma contribuição notável foi feita, a partir daí, para o progresso do setor. Em contrapartida, Bolsonaro favoreceu o protecionismo europeu ao manchar, com ações antiecológicas, a imagem do agronegócio brasileiro. Uma necessidade evidente, a recuperação da indústria, nunca foi enfrentada nestes anos. Em 12 meses, segundo o Monitor, a produção industrial cresceu apenas 0,1%. Nada menos surpreendente, numa gestão como a do presidente Bolsonaro e de sua equipe.

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