O governo tomou a decisão correta ao retomar a exigência de visto de entrada para turistas da Austrália, Canadá, Estados Unidos e Japão. Não faz sentido que australianos, canadenses, norte-americanos e japoneses possam entrar no Brasil sem essa condição, enquanto brasileiros são obrigados a providenciar o visto para entrar naqueles países. Coisa de país que não se respeita, não de um Estado soberano que defende os interesses de seus nacionais.
O princípio da reciprocidade – que, em resumo, significa que um Estado deve tratar outro Estado da mesma forma como este lhe trata – sempre foi um dos balizadores da política externa deste e de qualquer outro país civilizado. Entretanto, logo no início do governo de Jair Bolsonaro, em março de 2019, esse princípio foi preterido pela adulação doentia do então presidente brasileiro à sua contraparte norte-americana à época, Donald Trump.
Na primeira visita como chefe de Estado aos Estados Unidos, Bolsonaro anunciou o fim da exigência de visto para cidadãos de “países estratégicos” em caráter “unilateral”. À época, justificou a decisão, formalizada por decreto, alegando que o suposto aumento do turismo internacional no Brasil representaria incremento de emprego e renda para os brasileiros.
Ainda que isso tivesse acontecido, a decisão do governo Bolsonaro continuaria a ser desrespeitosa em relação aos brasileiros, como se fossem cidadãos de segunda classe. Mas, além de tudo, não se tem notícia de que os americanos, australianos, canadenses e japoneses tenham se animado a vir ao Brasil em larga escala por não haver mais exigência de visto de entrada. Ou seja, o Brasil de Bolsonaro humilhou-se para nada.
Evidentemente, a eclosão da pandemia de covid-19, em março de 2020, não apenas afetou brutalmente o setor de turismo, como mudou o mundo tal como o conhecíamos. Porém, mesmo nos anos anteriores à emergência sanitária, o Brasil já não recebia uma quantidade de turistas estrangeiros à altura de seus muitos atrativos, sobretudo sua exuberância natural.
Em média, o Brasil recebe cerca de 6,5 milhões de viajantes estrangeiros por ano, de acordo com a Polícia Federal. Para dar uma ideia de quão baixo é esse número, a Argentina recebe quase 7 milhões de estrangeiros por ano. Na Europa, apenas a Torre Eiffel, símbolo de Paris, é visitada por esse contingente de pessoas anualmente (6,7 milhões de turistas, em média).
Decerto a burocracia para obtenção de visto pode desestimular a vinda de turistas para o Brasil. Mas isso está longe de ser a principal causa do descompasso entre a miríade de atrativos do País e a relativa baixa procura por estrangeiros.
O Brasil revolucionará o turismo externo e interno se passar a tratar com seriedade os problemas que, de fato, afastam muitos visitantes que olham para o mapa-múndi e se deparam com outros destinos mais seguros e organizados. Faltam-nos políticas públicas de segurança eficientes e desenvolvimento em infraestrutura de serviços e transporte. De nada adiantam campanhas publicitárias institucionais mostrando um Brasil aos estrangeiros que, ao chegar aqui, eles não encontram.
https://www.estadao.com.br/opiniao/uma-decisao-que-respeita-o-brasil/
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